Albertino espera do fundo do coração há 25 anos por operação em Portugal.
Leva de forma inconsciente a mão ao peito quando fala. Há 25 anos que lhe foi detectado um problema cardíaco e os médicos lhe disseram que teria de ser operado em Portugal, mas hoje, aos 36, nem a uma junta médica foi.
Leva de forma inconsciente a mão ao peito quando fala. Há 25 anos que lhe foi detectado um problema cardíaco e os médicos lhe disseram que teria de ser operado em Portugal, mas hoje, aos 36, nem a uma junta médica foi.
Natural de Sinagoga, ilha de Santo Antão, onde vive, Albertino Ribeiro tem ar de ser bastante mais jovem, ajudado pela pouca barba e ar frágil. E, coisa rara aos 36 anos em Cabo Verde, é solteiro e sem filhos, porque o coração não lhe permite grandes projectos.
"Um médico disse-me que se quiser viver até aos 40 anos tenho de ter uma vida normal", diz, explicando que uma vida normal é comer comida sem sal, sem óleos, sem café, nada de bebidas alcoólicas ou tabaco, nada de esforços, "e também com mulheres tem de ser muito pouco".
A vida de Albertino sempre foi assim, desde que aos 11 anos os pais perceberam que se passava alguma coisa com o rapaz, que se cansava de tudo e de nada e que volta e meia ficava com manchas de sangue pelo corpo todo.
"Um médico disse-me que se quiser viver até aos 40 anos tenho de ter uma vida normal", diz, explicando que uma vida normal é comer comida sem sal, sem óleos, sem café, nada de bebidas alcoólicas ou tabaco, nada de esforços, "e também com mulheres tem de ser muito pouco".
A vida de Albertino sempre foi assim, desde que aos 11 anos os pais perceberam que se passava alguma coisa com o rapaz, que se cansava de tudo e de nada e que volta e meia ficava com manchas de sangue pelo corpo todo.
O jovem, como contou à Lusa, foi internado no hospital da Ribeira Grande, a poucos quilómetros de Sinagoga, e foi depois mandado para casa.
"Ia para casa e acontecia-me novamente. As manchas de sangue, muito cansado, às vezes nem sequer conseguia andar". Foi assim durante quase dois anos, quando um médico, "depois de muitos exames", descobriu que ele tinha um problema no coração e que teria de ser operado em Portugal.
Mas Albertino Ribeiro só saiu de Santo Antão para fazer outros exames, noutros hospitais, e 25 anos depois nunca foi chamado para uma junta médica, o primeiro passo para seguir para Lisboa e ser operado, ao abrigo dos acordos que existem entre Cabo Verde e Portugal.
"Na Praia disseram-me que fazer uma junta médica é devagar, custa muito dinheiro e há muita gente à espera", conta Albertino, que já esteve internado uma vez no Hospital da Praia, duas no da ilha de S. Vicente e tantas que nem sabe quantas no da Ribeira Grande.
Nos últimos 25 anos tem sido assim. Médicos, internamentos, promessas de junta médica, promessas de operação, depois garantias de que está estável e não precisa de ser operado, tanto que Albertino já se habituou a este ritmo: "Antes ainda corria um bocadinho, agora ando mais devagar".
As manchas também não lhe têm aparecido, até porque toma um comprimido diariamente, às vezes dois, quando o coração "anda mais acelerado", conta. "É muito caro e no hospital às vezes não há. Uma caixa de 30 comprimidos custa 2.500 escudos", lamenta.
Contas feitas, Albertino gasta por mês quase 23 euros em medicamentos. Mas Albertino não trabalha e os pais têm uma reforma que, em conjunto, chega aos 54 euros.
"Gosto de trabalhar com fotografias". Albertino ainda tentou trabalhar como ajudante de carpinteiro numa obra em Santo Antão, mas em pouco tempo o engenheiro responsável apenas lhe exigia que lhe lavasse o carro.
"As pessoas protegem-me", diz. E não é para menos: "Às vezes estou a andar, sinto-me mal disposto e tenho de me sentar, pegar no coração e beber um bocadinho de água. Sinto as penas largarem-me por completo".
Albertino nunca se esquece das palavras do doutor Arlindo, que lhe disse que ele tinha um problema muito sério, mas também não se esquece das várias promessas de um junta médica, que nunca chega. "Há um ano e tal um médico disse-me que mais tarde tenho de ir a Portugal. Ficam sempre a dizer isso".
Albertino não sabe quando é mais tarde. "Antes sentia-me bem, com 20 e tal anos. Mas aos 36 anos... às vezes tenho pena...". Albertino não termina a frase, leva apenas a mão ao coração e os olhos ficam brilhantes.
O governo de Cabo Verde tem um acordo com Portugal que lhe permite enviar para Lisboa 300 doentes por ano, contando com os que já lá se encontram a 31 de Dezembro.
As autoridades portuguesas, segundo o ministro da Saúde de Cabo Verde, Basílio Ramos, têm permitido que o número de doentes seja ultrapassado, quase sempre casos de doenças cardio-vasculares, traumatismos ou doenças renais (não há serviço de hemodiálise em Cabo Verde).
As viagens e estadia são por conta de Cabo Verde, os tratamentos pagos pelo governo português, sendo que a lista de espera é muito grande e necessita sempre de uma prévia ida a uma junta médica.
Albertino espera há 25 anos por essa junta médica. Segundo um dos últimos médicos que o consultou, no entanto, essa espera pode acabar dentro de quatro anos, aos 40, a esperança de vida que lhe deu.
E depois? "Depois não sei". Albertino encolhe os ombros. "Talvez seja só uma previsão".
Fonte:RTP
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